
Fraqueza muscular, queda das pálpebras, dificuldade para engolir e mastigar… esses são alguns dos sintomas da miastenia gravis (ou miastenia grave), uma rara doença autoimune que afeta a comunicação entre o sistema nervoso e os músculos.
Por ser uma encrenca pouco conhecida, nossa leitora Carmen Scariot enviou uma mensagem pelo Instagram pedindo para falarmos sobre ela. Para tirar todas as dúvidas, SAÚDE conversou com o neurologista Marcelo Annes, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
A miastenia gravis é uma doença autoimune que atinge as chamadas junções neuromusculares – regiões espalhadas pelo corpo todo onde os neurônios entram em contato com os músculos. É nesses locais que os estímulos nervosos se convertem em contrações dos músculos, através da substância acetilcolina.
“Na miastenia gravis, há uma produção de anticorpos que atacam esses locais. Infelizmente, ainda não se sabe a causa”, informa Marcelo Annes. Dito de outra forma, o próprio organismo agride a tal acetilcolina e atrapalha seu funcionamento.
Com essa área afetada, o corpo deixa de ter controle sobre certas regiões. Cada caso varia, mas olhos, boca, braços, pernas e até pulmões podem ser afetados.
Essa perda do controle muscular também está por trás de fraqueza e cansaço.
Acredita-se que exista uma relação do transtorno com o timo, uma glândula localizada entre os pulmões e à frente do coração que tem um papel no sistema imunológico. Normalmente, o timo vai diminuindo de tamanho com o passar dos anos, mas, nos portadores da miastenia, ele permanece aumentado.
A manifestação clínica vai depender do local comprometido e da gravidade. “Mas, em 90% dos casos, a forma é generalizada”, aponta o neurologista.
Os principais sintomas são fraqueza muscular de braços e pernas, queda das pálpebras, visão dupla e dificuldade para falar, mastigar e engolir. “Se o pulmão for atingido, ocorre um quadro mais extremo de insuficiência respiratória, que nessa situação, é chamada de crise miastênica”, complementa Annes.
É importante notar que os sintomas vêm e vão e às vezes até somem graças ao tratamento, como você verá mais adiante. Além disso, uma hora o paciente pode sofrer com fraqueza nos braços, enquanto, em outra, com a queda das pálpebras.
Como o indivíduo nem sempre relaciona os sinais a um problema neuromuscular, o diagnóstico acaba sendo dificultado. Normalmente, não se procura diretamente o neurologista, que é o médico mais preparado para avaliar e realizar o tratamento. Os principais pontos de contato inicial são o oftalmologista ou o otorrinolaringologista.
A miastenia gravis tem dois picos de incidência: em torno de 20 a 30 anos, principalmente em mulheres, e acima dos 60 anos, quando está bem dividida entre os sexos. Estima-se que ela surja na infância em 10% dos casos.